Eu sou assim

Eu sou assim
Apaixonada por livros e por literatura poética

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

HARPEJOS


No corpo desnudo
O beijo é chama
Que chama desejo

Na noite vazia
O toque obsceno
Acorda o dia

No abraço ansiado
O aperto pleno
É suor molhado

Na ilusão do sonho
O ninho enluarado
É violino de corda
Quebrada

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

ACORDE PARA PIANO







A torre do sino
Canta a manhã
O vulto matutino
Na água lavadeira
Massageia a lua

O homem anoitecido
Troca figurinhas
Por calo na mão.

No bolso do coração
A piorra assovia
A canção vazia
Das bolinhas de gude
Perdidas na memória

O homem amanhecido
Pula amarelinha
Na via da ilusão

No silêncio da infância
Avião de papel mancha
A saudade que brinca
De esquina na rua
Cheia de tanta história

O homem envelhecido
Sonha enluarado
Cansado de lembrar

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

PRATOS EM SONATA





Menino fumaça
amassa o tempo
Desenha a nuvem
Ensina o sol.
Ganhando ou perdendo
Parte e faz arte
na estrada de arrebol

Jogo de fundo,
mundo de flor
Apito de cor
Prato de grito
Ataque de dor
Menino fumaça
abraça a fada
Levada em raio
de lua cheia.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

MADRIGAL


Amanhece o beijo do sol
No trigo-mouro que amadurece
A esperança-encanto do serrano.
O lençol de maio aquece
O Minuano-canto do abrigo

A menina-olhos d’água traz
Pedaços de sonhos e afagos

A folha da castanheira desfaz
A miragem-bolha de realidade
Minerva afasta os enganos.
A aragem da sombra esfria
O sentimento-dia dos lagos

A menina-olhos d'água leva
Traços de dor e saudade.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

RÉQUIEM


Nos seus olhos
Melancolia...
Paz tardia
esconde
espinhos
colhidos
em caminhos
meus.
Lida árdua,
Tempo passando
Sem rir,
ou dividir
alegrias
colhidas...
Passos ficando lentos
Desatentos
da vida
escorrida.
Afetos adiando
de mim.
Ninho de braços caídos,
A sós, enfim...

terça-feira, 30 de outubro de 2007

COMPASSO PARA TUBA

No filme das paredes de vento
Cenas que o tempo reteve

Uma bola
Uma mão
Um rabisco

Um nome escrito em giz

Roda inteira a história gris





segunda-feira, 29 de outubro de 2007

TOQUE DE CARRILHÕES


A manhã adormece o sol.
No beiral fundo do mundo
Rouxinol acalanta o ninho,
Trança de corda e espinho,
Escondido no ramo vazio
De caladas rosas, só rosas.

Sozinho voa o pássaro
Das asas abertas na rua.

Ícaro se faz sonho escorrido
Nas violas desacordoadas
De notas perdidas na aragem.

A imagem de luz desaparece,
Além da vida, as Três Marias
Sopram forte o vento do norte

Sozinho canta o pássaro
Das asas despidas de lua.


A roupagem da ave canora
Seduz na cor da folha ausente,
O trinado afina, ressente dor.

Criança ergue o véu e chora.
Na esquina a piorra balança
É hora de sombras vazias

Sozinho está o pássaro
De asas partidas e nuas.